segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Era uma vez

Era uma vez então, uma história inacabada:

Sim, ele era encrenca, das boas.
Eu sabia o que estava fazendo, ele também: estavamos fazendo uma coisa errada.
Mas eu gostava daquela luz dos olhos dele. Gostava de saber que estava me encantando mesmo sabendo que não deveria me encantar.
Apesar de todo esforço, meu poder era uma ilusão. Apesar do desprendimento, eu me enganava o tempo todo.
E na hora de pontuar corretamente a história, ele fecha a porta e volta para sua vida real. Sua colaboração eram as reticências, para os dois, porque ele não era egoísta.
Eu queria exclamações, muitas!!! Eu me cobrava tanto ser feliz que às vezes perdia a noção de que já era. E agora, o que fazer? Fugir da felicidade ou fugir com ela? (Interrogações)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O que estou esperando?

Mau negócio. Sabe quando você compra aqueles chocolates importados, chiquérrimos, só pela embalagem? Aí, depois que abre, percebe que são horríveis de mastigar, quase impossíveis de digerir, às vezes você vomita pra não morrer e o pacotinho com quatro custa uma fortuna?
Pois é, é mais ou menos nisso que tudo se resume.
A gente sempre soube o que estava fazendo, sim, estavamos fazendo coisa errada... E isso foi se estendendo...
Quase um ano se passou, e o único motivo que ainda me leva a degustar desse docinho desentupidor de merda é justamente sentir, por uma das primeiras vezes na vida, a minha merda desentupindo. Ele corrói sem dó mas resolve.
Você vai empurrando com a barriga até que, de repente, vem a mente a seguinte pergunta: "O que estou esperando?"
Eu quis responder qualquer coisa, mas numa hora dessas mentir pra sí mesmo beira a burrice. Passei dias inteiros assim, catatônica, tentando adivinhar o que eu deveria fazer para que não esperasse mais o que eu estava esperando. Eu deveria resolver alguma coisa, de certo, mas o quê?
Sim, eu deveria parar de esperar, mas para parar de esperar, antes, eu deveria saber o que enfim eu estava esperando. Que que eu tava esperando?
E foi então que a questão me perseguiu pelos dias seguintes e também pelas madrugadas.
Ah, quer saber? São tantas coisas: Tô esperando ganhar na mega sena. Tô esperando acabar a novela pra ligar pra Karen. Tô esperando dar 18h pra encarar o trânsito. Tô esperando a grana do freela entrar pra pagar o cartão de crédito. Estou esperando esquentar o tempo pra dar um pulinho na praia. Estou esperando os trinta pra declarar estado de calamidade pública pra minha bunda. Tô esperando a minha família reclamar de novo das noites que tenho passado fora de casa. Tô esperando o filme de "Friends". Tô esperando esgotar a última gota de uma paciência que eu nem tinha. Tô esperando você chegar pra te socar.
Quando a mente naufraga pesada demais, vou pro teatrinho infantil que mora lá pelas bandas do meu coração, encenar minhas sensações pra ver se descubro algo que está difícil de se explicar sem figurinhas. E meu teatrinho infantil me botou em cima de um cavalo branco, com uma varinha de condão. Podia ser uma espada, mas acredito que uma “vara” que transforma o mundo é ainda mais pau que o pau que simplesmente luta, fura e mata, então lá tava eu de varinha mágica, toda me achando a princesinha ainda que a princesinha espere e não aja e eu, como boa pessoa que não deveria esperar por mais nada segundo a minha consciÊncia, estivesse agindo. Tá, agora faço o quê? Vou pra onde vestida de besta desse jeito? Eu tenho medo de cavalo, vara com estrela na ponta não me serve de nada. De que me serve meu potencial de macho se ele só me enfraquece? De que me serve a vontade de ir se o lugar não existe? De que me serve, afinal, esse amor?
Tá ai: Amor! É de amor que você fala? É. Tudo em mim respondeu: ÉÉÉÉÉÉÉ!!!
Como é bonito o equilíbrio único de uma constatação puramente verdadeira.
Prontinho, descobri o que espero:
Tô esperando é o dia que isso vai passar. Isso aqui, que falo descarada e cifradamente, mas sempre. Isso que espalho em cada linha, o tempo todo, o muito peneirado ao longo desses dias todos, soando pouco mas sem parar, nos intervalos dos reais intervalos. Tô esperando acabar, passar, morrer, sangrar até o fim. Esperando o tempo que acalma chamas. Esperando alguém que ocupe, distraia, desacorrente, solte, substitua, o torne nada demais. Esperando não sentir mais ódio e nem tesão e nem ciúme e nem saudade. Esperando porque é o que resta mesmo, não é falta de coragem, simplesmente não há o que fazer, é de se sentir e só. Nem sempre a força de um amor é pra sair às ruas, pra viver histórias. No meu caso, sozinha mesmo, preciso ninar esse enjôo de um filho sem pai, esperar que ele nasça morto e enterrá-lo já sem dor. A gravidez do coração dura mais do que deveria e só expulsa seus filhos quando esses já nem existem mais.

- Tá, acomodado dos infernos, eu entendi. Mas você erra quando acha que alguém resolve um amor. O amor é que, se tivermos coragem pra deixar, resolverá aos poucos a gente.