quarta-feira, 28 de abril de 2010

Três pedidos

Sei que o conheço, mas talvez não tão bem quanto me conheça - que coisa louca!
O conheço há muito tempo apesar de ter sido tudo o mês passado. O conheço por um acaso generoso e atrasado.
Tornou o meu sincericídio falho, e aprendeu a fazer as coisas funcionarem entre nós sem que eu precisasse me exaustar indicando os caminhos.
Coube perfeitamente na minha intensidade e a minha neurose fria acabou no quentinho do seu colo quando o sono veio.
Tem dentro de sí todos os sonhos do mundo e todo potencial para alcança-los. Ainda assim não é o homem perfeito, pois o homem perfeito é maduro demais, seguro demais e, consequentemente, chato demais...
Sabe quando você faz essa sua cara de sonso despretensioso para a vida, enquanto eu coleciono rugas, berros e inchaços? Sim, essa sua cara de que "não é comigo" vai muito bem com a minha máscara da agressividade que acredita que tudo é comigo.
Quando me cansa enfio a cabeça nas lembranças e percebo que eu tinha tudo para ter te cansado antes, aí então peço a Deus que conserve em você essa paciência e comece fazer brotar em mim um pouquinho dela.
Afinal, às vezes o que parece um trovão é apenas o barulho do mar, né?!
Não sei o dia de amanhã... Talvez eu me satisfaça encontrando em alguém boa parte das suas virtudes, talvez eu tenha que voltar pra te buscar... Enfim, por hora só me resta fazer três pedidos:
- Sempre que possivel reabasteça minha fé.
- Sei que nem sempre estaremos geograficamente próximos, mas seja sempre presente.
- Por último e mais importante - Seja sempre você, e serei feliz.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Terminando no terminal

Eu nunca tinha visto uma chuva tão forte. Não eram gotas, era como se o mundo tivesse desabando em água. Era como estar embaixo de uma cachoeira do tamanho de uma cidade. Era impossível não pensar no 2012, por mais que eu ache esse papo maluco e chato.
O taxi parou no trânsito, eu perdi a hora e aproveitei pra chorar usando isso de desculpa. Parecia que a cidade chorava comigo, e o atraso era um sinal para eu desistir de deixa-la.
Perdi o primeiro ônibus e ninguém pode imaginar como foram longas as cinco horas seguintes naquele terminal aguardando o próximo. Tudo que eu não precisava era de tempo livre para pensar e desistir, mas eu tinha, muito.
Enquanto a cidade chorava, eu chorava no terminal terminando aquela etapa da vida... Ele dormia, sem imaginar quantas vezes pensei em encarar um metrô com todas aquelas malas e mudar o rumo da viagem para seu apartamento, mudar o rumo da vida.
Pela primeira vez na minha história posso me orgulhar em ter sido extremamente racional. Não fiz nada do que gostaria, não prolonguei, não cedi, eu não me esgotei.
Eu cheguei. E por aqui tudo igual. Uns fumam, outros enchem a cara, alguns vão de regulador de humor, outros comem beiradas de dedo. Eu encho a cara, e isso junto a minha TPM vira uma bomba, azar de quem está perto. Tento por um pouco de carência formar o casal mais improvavel do mundo e ser feliz. Sustento temporariamente a teoria de que um unfollow, um delete e um block consertam a vida. Me afundo em trabalho e encontro nas coisas mais simples uma satisfação que eu sempre tive e nunca valorizei.
Prefiro ser novamente a filha dependente do que uma mulher lutando pra controlar uma criança grande, livre, inconsequente e egoísta.
Talvez eu não consiga ter prazer hoje porque ainda não me materializei, ainda não estou aqui. Eu tô no ontem, terminando no terminal, apertando o end no celular, evitando novas tentativas e esperanças, olhando a agenda de novo e, só pra tentar contar do meu jeito e me assustar menos, escrevendo um texto. Vai começar tudo de novo.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Resumindo

Antena 1. Quarto escuro. Edredon. Chuva lá fora. Frio lá fora. Muito frio aqui dentro, do coração. Papéis de chocolate por todo canto. Medo e saudade. Nenhuma vontade de falar. Muita coisa a ser dita. Nada mais a fazer. Muita coisa ao meio, inclusive eu. Três malas e apenas dois braços. Todo o tempo do mundo. Uma estrada e nenhuma coragem.

Sem mais,

Fala por mim aí, Chico:

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.

Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.


Todo sentimento - Chico Buarque