Era inverno, e o coração estava equivocadamente aquecido. Entre realizações e mudanças, ela se esforçava pra dar conta de tudo e ser feliz ao mesmo tempo. Ele, que engraçado, não é que vivia a mesma coisa?! E foi assim que, na cidade dos sonhos reais, eles se encontraram pela primeira vez.
Encontro pouco notado, diga-se de passagem, para ela muita responsabilidade naquela novidade, para ele muita falta de paciência para os atrasos. Na espera, do alto de sua experiência, ele fumava enquanto a mão dela suava, e os olhares se cruzavam em momentos aleatórios. Era hora, pauta boa, correria, empurra-empurra, mas rendeu: aquele adeus o corpo deu, enquanto o subconsciente registrava.
Ela então voltou pro que achava certo, e quando isso podia tornar o real incerto, as coisas começaram a se encaixar. O coração esfriou e a alma voltou a se inquietar.
Para ele a mesma rotina, a realização sempre predominante e a vida seguiu assim, sem mudar.
Sete meses passados, o sol na janela a incentivou melhorar, decidiu sacudir a vida, levantou como há muito não se via, tão animada para trabalhar. Microfone em punho, na cidade pequenina, pauta chata e um dia que parecia não acabar.
Seu coração frio já não sentia, mas ali estava a prova, seu subconsciente não havia deixado de acreditar. Nenhum dos dois se lembrava da primeira vez, mas precisavam de alguma forma fazer o tempo passar. Porque não então, conversar?
Tanta coisa em comum, amigos, profissão, interesses e principalmente a vontade de ver aquela sessão terminar. Ele tão desatento quanto ela, pedia informações que ela não sabia dar. Partiram então aos procedimentos básicos de pessoas que pretendem de alguma forma se relacionar: nome, idade, cidade, o gosto por baladas, redes sociais, e por mais desastroso que fosse o momento, pelo menos dessa vez não teriam como não se lembrar.
Depois disso outras coisas na vida fizeram com que os dois voltassem a se encontrar, mas o mais importante de tudo era que, na maioria das vezes, a vontade falava mais alto que o acaso.
Encontros assim acontecem todos os dias, e mesmo que nosso coração equivocadamente aquecido e preenchido não se atente, existem forças maiores que mantém em nossas vidas o que realmente tinha que chegar, não adianta tentar afastar.
Ah, os dois? Sobre isso não sei dizer, já se passou um ano. Hoje ela sonha, ele desacelera, eles querem, ela espera, ele erra, ela erra, eles se espantam e se divertem com as coincidências que os trouxeram até um hoje juntos, mas não sabem do amanhã, por isso não sei te contar o fim da história, nem eles sabem ainda! Eu só queria compartilhar para que vocês também pudessem acreditar naquilo que Saint-Exupéry profetizou há algum tempo atrás:
"Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito, mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida:
E a prova de que duas almas, não se encontram por acaso."
quarta-feira, 6 de julho de 2011
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