quarta-feira, 6 de julho de 2011

O acaso

Era inverno, e o coração estava equivocadamente aquecido. Entre realizações e mudanças, ela se esforçava pra dar conta de tudo e ser feliz ao mesmo tempo. Ele, que engraçado, não é que vivia a mesma coisa?! E foi assim que, na cidade dos sonhos reais, eles se encontraram pela primeira vez.
Encontro pouco notado, diga-se de passagem, para ela muita responsabilidade naquela novidade, para ele muita falta de paciência para os atrasos. Na espera, do alto de sua experiência, ele fumava enquanto a mão dela suava, e os olhares se cruzavam em momentos aleatórios. Era hora, pauta boa, correria, empurra-empurra, mas rendeu: aquele adeus o corpo deu, enquanto o subconsciente registrava.
Ela então voltou pro que achava certo, e quando isso podia tornar o real incerto, as coisas começaram a se encaixar. O coração esfriou e a alma voltou a se inquietar.
Para ele a mesma rotina, a realização sempre predominante e a vida seguiu assim, sem mudar.
Sete meses passados, o sol na janela a incentivou melhorar, decidiu sacudir a vida, levantou como há muito não se via, tão animada para trabalhar. Microfone em punho, na cidade pequenina, pauta chata e um dia que parecia não acabar.
Seu coração frio já não sentia, mas ali estava a prova, seu subconsciente não havia deixado de acreditar. Nenhum dos dois se lembrava da primeira vez, mas precisavam de alguma forma fazer o tempo passar. Porque não então, conversar?
Tanta coisa em comum, amigos, profissão, interesses e principalmente a vontade de ver aquela sessão terminar. Ele tão desatento quanto ela, pedia informações que ela não sabia dar. Partiram então aos procedimentos básicos de pessoas que pretendem de alguma forma se relacionar: nome, idade, cidade, o gosto por baladas, redes sociais, e por mais desastroso que fosse o momento, pelo menos dessa vez não teriam como não se lembrar.
Depois disso outras coisas na vida fizeram com que os dois voltassem a se encontrar, mas o mais importante de tudo era que, na maioria das vezes, a vontade falava mais alto que o acaso.
Encontros assim acontecem todos os dias, e mesmo que nosso coração equivocadamente aquecido e preenchido não se atente, existem forças maiores que mantém em nossas vidas o que realmente tinha que chegar, não adianta tentar afastar.
Ah, os dois? Sobre isso não sei dizer, já se passou um ano. Hoje ela sonha, ele desacelera, eles querem, ela espera, ele erra, ela erra, eles se espantam e se divertem com as coincidências que os trouxeram até um hoje juntos, mas não sabem do amanhã, por isso não sei te contar o fim da história, nem eles sabem ainda! Eu só queria compartilhar para que vocês também pudessem acreditar naquilo que Saint-Exupéry profetizou há algum tempo atrás:


"Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito, mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida:
E a prova de que duas almas, não se encontram por acaso."

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Remar, re-amar, amar


"Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.

Remar.
Re-amar.
Amar.
"


- Caio Fernando Abreu.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

EXtúpido

Quando sua ausência e o tormento que suas lembranças provocam, se misturam dentro de uma pessoa com a culpa que ela sente, ou remorso, e com a falta de maturidade, a situação fica realmente preocupante. Refletem na vida dela (que não anda pra frente de jeito nenhum), em sua produtividade, CRIATIVIDADE... Enfim. Eu desisto, só consigo sentir pena. Pena de quem só consegue viver a minha sombra, ou a sombra de lembranças de coisas que pra mim nem fizeram tanto efeito.

Ex namorado é realmente como calça boca de sino, né?!
- Você olha e não entende onde estava com a cabeça quando andava com aquilo.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Meu potinho de balas coloridas


Equilíbrio é sinônimo de maturidade?
Não sei... Eu não quero pensar muito, eu não quero perder nada.

Tenho saudade da época em que a falta de maturidade me permitia ser mais ousada, saudade de quando as experiências já vividas não me deixavam com medo de me entregar de corpo e alma as novas.

Dias não são iguais, pessoas menos ainda. Boto o medo na sacola e me deixo levar... Deixo ser, eu me permito, mas até que ponto?

Ele era uma incógnita, um potinho de balas coloridas, daqueles bem atrativos e bem lacrados, que pessoas desastradas como eu não conseguem abrir sem quebrar.
Ele misturava cores, sabores e valores, e eu precisava descobrir cada um, afinal, que graça tem levar um potinho tão lindo desses pra casa e apenas botar na estante?
Penso que um dia, talvez, ele já tenha sido aberto com facilidade, mas por não ser apreciado da forma correta, travou.

E agora? Droga! Eu quero, quero, quero, quero taaanto, que poderia me arriscar no "quem sabe seja eu a pessoa que vai acertar a medida da força?", mas não quero me apressar, trincar, nem sequer entortar sua tampa.

Talvez com o passar do tempo eu adquira mais habilidade... Talvez com o passar do tempo eu me desinteresse pelas suas cores... Talvez eu deva ensaiar nos potinhos errados, aqueles que se quebrarem não farão diferença...
Enquanto isso sigo admirando meu potinho de balas coloridas na estante, cuidando pra que ninguém com mais coragem o abra antes, e torcendo para que ele não se quebre sozinho.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Fantasma

Velo suas fotos e me apavoro com sua presença, como se fosse um fantasma.
Não consigo entender como alguém que foi embora consegue estar com a gente o tempo todo, por que você está comigo o tempo todo? Me diz?
O amor não devia deixar rastros, né?! Quer chegar? Chega, faz seu papel e vai... Mas vai de vez, caramba.
Tá me consumindo, e eu quero gritar bem alto o quanto isso me consome só pra ver se me liberto.
Se vão as energias, as unhas, a paciência...
Ainda dói, queima, incomoda, onde é que isso vai parar? Será que vai parar?
Já não quero mais entender porque você quis ir embora, só quero saber porque é que você não vai.
Eu tô te botando na parede, eu tô te pressionando sim, eu quero saber, eu preciso entender.
Enquanto isso, vivo como uma mãe que não desfez o quarto do filho falecido, arrumando e olhando com pena tudo que restou, pensando em como seria o hoje se o pior não tivesse acontecido, mas sabendo que não há nada a fazer, sabendo que não aceitar a realidade é sofrer duas vezes.

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval

O programa mais tranquilo, o lugar menos cheio, a música mais antiga, a pessoa mais calada e os dias de chuva, nunca foram tão atrativos.
Então eu tô velha? O carnaval chegou tão rápido que não me permitiu fazer planos pra ele, mas confesso que se eu tivesse feito, eles seriam bem parecidos com o que está acontecendo agora.
Não quero vestir a máscara dos que fingem ser felizes por cinco dias ou precisam dessa época para ser o que eu sou o ano todo.
Eu ando enjoada, sabe?! Enjoada dos tipos comuns que se entregam a essas emoções superficiais, não consigo mais nem fingir tolerar, por isso evito.
A alegria de verdade está em você descobrir que não precisa de data certa para ser alegre, que não precisa do natal para perdoar e nem do reveillon para recomeçar.
Só espero que quando o carnaval terminar, algumas pessoas deixem de usar suas fantasias de palhaço, porque ó, disso o mundo já tá cheio.

- A vida é simples e bela, quando se tem paz no coração, um jogo de tabuleiro, amigos sinceros, música, saúde e um colo bom pra descansar depois.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A lei do amor

Não sou declaradamente espírita, porém me identifico com algumas coisas na doutrina, e ontem, dia internacional do amor, um amigo me impressionou ao falar sobre a tal "lei do amor".

Ele dizia que algumas histórias de amor parecem escritas pelo destino. Tem que acontecer e pronto. Isso não determina um romance feliz ou não, mas sim um amor de almas. São laços fortes do passado. Pessoas que se reencontram após vidas sucessivas de paixão, ódio ou amor.
O destino pode aproximar duas pessoas, mas as escolhas, os comportamentos são determinados pelo livre arbítrio. A partir do momento em que nos responsabilizamos por nossas escolhas, acertos e erros, mudamos nossa vida. Em vez de vítima, seremos o agente da nossa própria história.

Na luz do Espiritismo, há uma explicação para uma ligação tão forte: as vidas sucessivas.

Na verdade, não somos meros joguetes do destino, obras do acaso. Aceitamos ou não os caminhos que nos são postos a seguir. Certo, apenas é que é difícil fugir a um compromisso que selamos na Espiritualidade antes de reencarnarmos.

Mesmo que você não acredite na reencarnação, o seu passado cármico está escrito no seu inconsciente. Durante o sono, seu espírito fica livre da matéria por algumas horas e relembra tudo. Você, conscientemente ou inconscientemente sabe porque sofre, porque atraiu ou não determinada pessoa. No entanto, Deus não quer que duas pessoas fiquem juntas por obrigação. Só o amor deve unir. Mesmo que haja algo muito forte, você conta com o livre arbítrio.

Escolha sempre o amor. Confundimos as paixões desenfreadas, o interesse material, as ilusões com o verdadeiro amor. O verdadeiro amor é o único que resgata, purifica e traz felicidade.

“nem a lei civil, nem os compromissos que ela faz contrair podem suprir a lei do amor se esta lei não preside a união; disso resulta que, frequentemente, o que se une à força, se separa por si mesmo; infelicidade que se evitaria se, nas condições do casamento, não se fizesse abstração da única lei que o sanciona aos olhos de Deus: a lei de amor”.
(Allan Kardec)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Aquela da Joana

Joana foi fruto de uma relação estranha entre seus pais. Sua mãe era muito jovem e naquela época era muito feio ser mãe solteira, por isso se casaram.
Pouco tempo depois que Joana nasceu, a relação deles adoeceu, e morreu. Desde então seu pai comparecia apenas uma vez por mês, em forma de uma boa quantia de dinheiro depositada em sua conta no banco. Sua mãe tinha como prioridade buscar uma nova relação pra curar a ferida aberta da primeira, e Joaninha, tadinha, cresceu carente de tudo que o dinheiro não podia comprar.

Ela queria alguém, mas ela queria tanto, que dava até pena.
Procurava demais, grudava demais, exigia demais, até que a pessoa se cansava e ela aceitava as migalhas só pra não ficar sozinha, estava sempre se dedicando demais e recebendo "de menos".

Assim como sua mãe, precocemente, Joana foi mãe, e nunca mais pode dizer que era sozinha. Porém seu sonho de formar uma família, continuou sendo apenas um sonho.
Eu gostava de ouvir Joana, sabe?! Suas loucuras, suas expectativas... Mesmo quando eram surreais demais e me obrigavam a dizer a ela umas verdades que a deixavam muito chateada.

Penso muito nela quando me frustro, afinal, se uma pessoa que sempre deu tanto amor e nunca foi amada tem coragem de continuar acreditando no amor, eu tenho obrigação de ter fé também.
Mas vale lembrar que, pra certas coisas, qualquer ex-namorado serve, e a mulher que se apaixonar mais de uma vez por carência, merece (e vai) sofrer muito. Vide Joana.