domingo, 24 de maio de 2009

Domingos

Este é só mais um texto sobre as tardes de domingo. As tardes de domingo de uma cidadã solteira. Avulsa mesmo. Sozinha. Em casa. Almoça sozinha nos finais de semana. Dorme sozinha. Acorda sozinha no domingo com a cara borrada de maquiagem da noite anterior. Dança sozinha em casa com o som alto. Chora sozinha. Uma cidadã que está cansada de todos acharem que ela é uma super-mulher e ela se sentir uma menina ainda. Carente. Intensa. Que quer abraçar o mundo. Que tem preguiça profunda de gente que mente. De gente que se entrega pela metade. E a cidadã enfrenta mais uma tarde de domingo daquelas que não se tem nada pra fazer.

Ninguém pra quem ela gostaria de ligar. Seu celular toca uma vez. END. Toca duas. END. Toca três. END mortal. E ela começa a colecionar números. 762 contatos no MSN. 83 bloqueados. Alguns scraps com cantadas baratas no orkut. 874 'amigos'. Zero sentido nisso tudo.

A cidadã-super-mulher-de-uma-figa é metida a entender os homens mas não entende nem sobre si mesma. Não entende como consegue não se apaixonar pelo vizinho que lhe mandou um buquê de flores porque a viu. Ou pelo que lhe deu um gatinho de aniversário. Ou por aquele que lhe mandou uma cesta deliciosa com um bilhete mais do que gentil. Ou porque ela não se apaixonou por aquele cara que cozinhava quando ela tinha preguiça de sair pra almoçar, ou por aquele que liga só pra saber se ela se curou da ressaca. Ela não entende o que leva um cidadão a convidá-la pra sair.

A cidadã-filósofa-barata-de-merda entende é que os homens fazem tudo errado. Que não adianta abrir a porta do carro, se ele não abre o coração. Que não adianta mandar flores, se ele não manda no rumo da sua vida. Que não adianta convidar pra sair, se ele não a convida pra fazer parte da vida dele. Que não adianta passar a noite se, no dia seguinte, ele some sem dar notícias. Que não adianta pagar a conta se o que ela quer mesmo não tem preço.

E a tarde de domingo vai chegando ao fim. Aquele gosto azedo de segunda-feira no ar. Pra começar tudo de novo. Sozinha. De saco cheio de promessas baratas. De bocas aleatórias. De pessoas que nada sabem a seu respeito. De carinho com muita mão e pouco sentimento. De músculos fortes e cabeça fraca. De agenda cheia e vida vazia.
Uma cidadã sem saco pra joguinhos. Que fala o que pensa. O que sente. Que não passa vontade. Mas que, às vezes, não liga pro único cidadão que ela quer por puro medo de ser mal interpretada. Por puro medo de dar tudo errado. Essa cidadã acha que controla o futuro, mas morre de medo dele. E não controla a própria vida. Muito menos os próprios sentimentos. E lá vai ela começar tudo de novo. Com aquela pose de super-mulher. Aquela barriga dura e aquele coração mole...

Um comentário:

Aline Gabriel disse...

Ludy!! Isso é depressão de domingo!! Acho que todas nós passamos por isso, dia ou outro. Só vai acabar quando a segunda-feira fazer parte do fim de semana!!! Com quem a gente pode falar pra ajeitar isso??? rsrs
Bjinhuzz